domingo, 23 de março de 2014
CORDEL REPENTE E VIOLA EM PORTUGAL COM MESTRE AZULÃO E BEZERRA DO CEARÁ
Meu abraço aos portugueses
Desta cidade
princesa
Évora, um
reduto histórico
Dotada por
natureza
Aonde guarda
e preserva
A Cultura
Portuguesa
Aqui agente
admira
As suas
belezas mil
Terra dum
clima saudável
E de umpovo
gentil
Que valoriza
os poetas
Filhos natos
do Brasil
Portugueses,
Brasileiros,
Unidos
apertam as mãos
Como amigos
patriotas
E fervorosos
cristãos
Numa amizade
mútua
De dois
países irmãos
Aqui não se
vê mendigo
Nem criança
abandonada
Se vê na
face do povo
Felicidade
estampada
Aqui nem uma
pessoa
Diz que já
foi assaltada
Évora cidade
climática
Com pureza e
primasia
No verão seu
clima seco
Aquesse
durante o dia
A noite uma
brisa mansa
Leva o calor
e esfria
Tem jardins
e monumentos
Comigrejas e
mosteiros
Conventos e
faculdades
Que nos
ensinos ordeiros
Dão orgulho
aos portugueses
E delírio
aos brasileiros
Tem dentro
do jardim Público
Um ês
Palácio Real
Suntuoso
monumento
De estrutura
coloçal
A Casa Dom
Manuel
Grande Rei
de Portugal
Um magestoso
Corêto
Bem no
centro do jardim
Com todos
traços Reais
Como quem
nos diz assim
Eu sou uma
obra eterna
Que nunca
mais terei fim
Todos
canteiros floridos
Com cravos,
jasmins e rosas
Exalando
seus perfumes
Essências
deliciosas
Assim
perfumando as môças
Elegantes e
formosas
Seu povo é
muito católico
Amigo e
hospitaleiro
É no mundo
cultural
Preservador
e herdeiro
Amante das
boas obras
E irmão do
brasileiro
Láfomos bem
recebidos
E
recepcionados
Num hotel
granfino e calmo
Ficamos lá
hospedados
Com todas as
regalias
E excelentes
cuidados
Onde as
môças nos trataram
Como
bondosas irmães
E se tornaram
de nós
Admiradoras
fans
Alegrementes
serviam
Nosso café
das manhães
E todos
funcionários
Da Câmara
Municipal
Nos
atenderam felizes
Com atenção
cordial
Sempre
dizendo, bem vindo
Ao nosso
Portugal
Também os
chefes da Câmara
Unidos na
mesma idéia
Fizeram em
nosso favor
Reunião de
Assembléia
Os senhores
Paulo Lima
E Rui
Arimatéia
Paulo e Rui
Arimatéia
Usaram
antecipação
Providênciando
logo
Nossa
remuneração
Nos pagando
antes mesmo
Da nossa
representação
Para à
Cidade de Beja
Também fomos
convidados
Onde catamos
repentes
Entre
artistas animados
Lá fomos por
todos eles
Aplaudidos e
abraçados
Durante toda
a viagem
Entre campos
de oliveiras
Fazendas e
mil pomares
De vinhas e
cerejeiras
Encantados
nos lembramos
Nossas
frutas brasileiras
Um ônibus trouxe
de volta
Nós e
artistas cubanos
Falando das
nossas músicas
Nossos shows
e nossos planos
E
instrumentos diversos
Espanhóis e
Italianos
Teve
artistas portugueses
Repentistas
de primeira
Que cantaram
seus repentes
Do seu
estilo e maneira
Mostrando a
sua cultura
Lá da Ilha
da Madeira
Artistas do
Alentejo
Mostraram a
sua cultura
Onde tocaram
e dançaram
Comarte
nativa e pura
Gente que
conserva a música
E cultiva
agrícultura
Nós fomos
considerados
Lá por todos
portugueses
Como
estrelas brasileiras
Entre espanhóis
e franceses
E com
futuros convites
Pra irmos lá
outras vêzes
Pois em todo
conteudo
Da nossa
apresentação
Foi feito um
evento histórico
De passado e
tradição
Dos
intelectuais
Que
enobreceram a nação
Guerreiros,
religiosos,
E poderososn
Reais
Que deixaram
grandes nomes
E se
tornaram imortais
De muitos
séculos passados
Dos tempos
medievais
De Pedro
Alvares Cabral
E suas
proesas mil
Atravessando
o Atlântico
E em vinte e
um de abril
Do ano mil e
quinhentos
Aportou no
meu Brasil
Os índios preseciaram
A vinda dos
portugueses
Mas no
Brasil já se achavam
Exploradores
franceses
Que se
debatiam em lutas
Com índios e
holandeses
Esses tais
exploradores
Levavam
muito sutil
Ouro e
pedras preciosas
De grandes
valores mil
E madeira
cor da brasa
Que deu o
nome ao Brasil
Estes e
outros passados
Muitos antes
de Cabral
Itália,
França, Alemanha
E toda
Europa em geral
Descrita por
grandes vultos
De Espanha e
Portugal
Nós os vates
repentistas
Voltamos
regosijados
Pelo o trato
que tivemos
E carinhosos
agrados
Dos bons
irmãos lusitanos
Alegres e
educados
Trouxemos de
Portugal
Uma
excelente impressão
De um povo
generoso
E de um bom
coração
Com todos os
requisitos
Duma
civilização
Um país
organizado
De paz e
tranquilidade
Ordem,
respeito e justiça
Sem violência
e maldade
Trazendo á
sua nação
Progresso e
prosperidade
Portugal
abençoado
Pelo clima e
a beleza
Ruas, praças
e jardins
Tem muito
zelo e limpeza
Mostrando ao
mundo que tem
Civilidade e
riqueza
Aonde nós
recebemos
Zelo cuidado
e carinho
União entre
os artistas
Leais em
todo caminho
Assim foi em
Portugal
O país meu
avosinho
Fim
Autor: José
João dos Santos (Mestre Azulão)
05/06/2001
Programa Cultural do Colóquio Interdisciplinar CULTURAS POPULARES EM PORTUGAL SÉCULOS XIX E XX
ÉVORA, Palácio D. Manuel, 24 de Maio de 2001
Endereço do
Mestre Azulão
Rua Celina
Lima n.º 11 – Engenheiro Pedreira – Japeri – RJ
Estado do
Rio de Janeiro. CEP. 26.381-000
Telefone:
(03121) 2664-2159
Esta
literatura de cordel foi patrocinada pelo o Sr. Prefeito de Japeri, Doutor
Carlos Moraes Costa, numa homenagem a cultura nordestina.
segunda-feira, 17 de março de 2014
Poema Entrelaçado
Évora
branca, marmórea, ebúrnea,
de lírios, nuvens, pombos e cisnes,
camélia, cal, amêndoa e lua,
imaculada...
“Lembrai-vos, porem, Senhora,
do Geraldo Sem Pavor:
- que outros o chamem de bravo,
nós o chamamos traidor.
Chegou-se tão disfarçado,
conquistou nosso favor.
Depois de amante fingido,
tornou-se vil agressor.
Sobre as pedras que estais vendo,
corre uma fita de cor:
corre uma fita encarnada,
sangue mouro, em tanto alvor,
destas cabeças cortadas,
que pesam sobre o valor
do ardiloso comandante,
cruel Geraldo Sem Pavor.
Por mim não diria nada:
mas não hei de chorar por
esta moura, minha filha,
que mal podia supor
ser por ele degolada,
dando-lhe senhas e amor?”
Évora branca, marmórea, ebúrnea,
cera, alabastro, magnólia, jaspe...
Sal das tristezas, coluna de horas
ultrapassadas...
“Lembrai-vos, porém, Senhora,
de Geraldo Sem Pavor!
Vede nestas armas claras
nossas mascaras de dor...”
Évora, 1953
Cecília Meireles
in “Poesia Completa”
de lírios, nuvens, pombos e cisnes,
camélia, cal, amêndoa e lua,
imaculada...
“Lembrai-vos, porem, Senhora,
do Geraldo Sem Pavor:
- que outros o chamem de bravo,
nós o chamamos traidor.
Chegou-se tão disfarçado,
conquistou nosso favor.
Depois de amante fingido,
tornou-se vil agressor.
Sobre as pedras que estais vendo,
corre uma fita de cor:
corre uma fita encarnada,
sangue mouro, em tanto alvor,
destas cabeças cortadas,
que pesam sobre o valor
do ardiloso comandante,
cruel Geraldo Sem Pavor.
Por mim não diria nada:
mas não hei de chorar por
esta moura, minha filha,
que mal podia supor
ser por ele degolada,
dando-lhe senhas e amor?”
Évora branca, marmórea, ebúrnea,
cera, alabastro, magnólia, jaspe...
Sal das tristezas, coluna de horas
ultrapassadas...
“Lembrai-vos, porém, Senhora,
de Geraldo Sem Pavor!
Vede nestas armas claras
nossas mascaras de dor...”
Évora, 1953
Cecília Meireles
in “Poesia Completa”
domingo, 2 de março de 2014
AS BRINCAS DE ENTRUDO DE ÉVORA EM 2014
NOTÍCIA
SOBRE AS BRINCAS DE ÉVORA
As Brincas do Entrudo de 2014
Neste Entrudo do ano de 2014 só
irá sair para a rua uma Brinca de
Carnaval – a do Bairro de Almeirim / Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo e
irá apresentar-se por diversos locais do Concelho de Évora, principalmente nas
freguesias rurais e quintas ao redor de Évora. Irá também apresentar-se no
Centro Histórico (Praça do Giraldo e Praça de Sertório).
No Sábado, dia 1 de Março,
participou no Festival Entrudanças, em Entradas / Castro Verde, evento cultural
organizado pela Associação PédeXumbo.
Recordemos que...
As
Brincas são das manifestações
tradicionais mais representativas do Carnaval de Évora. Consistem numa
manifestação cultural tradicional, ainda hoje viva, sendo únicas pela forma e
pelo conteúdo, pela originalidade e pela criatividade. São um sub-género da
dramatização popular, musicadas e coreografadas, tendo por base um fundamento constituído por um “corpus”
de décimas, tão características do Alentejo, e um dos pilares das oralidades da
cultura popular alentejana.
Excertos de um
fundamento escrito por Mestre Raimundo, “As Encantadas”...
Foi
assim apresentada a “fórmula” do Mestre iniciar o fundamento no “Grupo das
Encantadas”:
MESTRE
1.ª
Senhor
venho-o cumprimentar
Com a
minha delicadeza
E
pedir-lhe a fineza
Se nos
deixa aqui apresentar
Nada
podemos falar
Sem a
sua autorização
O
Senhor é o patrão
Eu
cumpro o meu dever
Faz
favor de me dizer
Se me
á licença ou não
2.ª
Fico-lhe
grato senhor
Que
atenda o meu pedido
Eu
fico-lhe agradecido
Muito
obrigado pelo favor
Já
tenho a rua ao dispor
Pois
irei o sinal dar
O povo
está a esperar
A
nossa apresentação
Dou-lhe
um aperto de mão
E
vamos já iniciar.
3.ª
A
todos muito boa tarde
A
todos muita saúde
Que
Deus os ajude
Com
sua bondade
Esta
mocidade
Vem
aqui alegremente
Cumprimentar
toda a gente
De
dentro do coração
Peço-lhe
muita atenção
E não
cheguem muito para a frente
4.º
Isto é
um divertimento
Que
nós mandámos fazer
Mas
devem de gostar de vir
Este
nosso entretimento
Não é
um fundamento
Com
toda a perfeição
É a
revolta de uma nação
É a
vida que foi vencida
Com um
filho anda fugida
E
muitos assuntos se verão.
../...
Continuando a falar sobre as
Brincas...
As
mensagens da brinca abalam de facto as
estruturas sociais mais sólidas: a família, a autoridade, a igreja, o poder
instituído, a moralidade e os bons costumes.
Se
o fundamento, na brinca, representa a narração de uma situação normal (normalizada) que caracteriza toda uma
ordem quotidiana, a principal figura da brinca
- o
Palhaço/o Faz-Tudo - personifica a desordem, o caos, o
diabo, a loucura, em suma, a ausência de ordem, de lei, de respeito, realizando
ele, no decorrer de toda a dramatização, a inversão total dos valores
veiculados pelos seus restantes companheiros, que fazem os possíveis e os
impossíveis para o ignorar -
ele, para eles, não existe...
Deste
modo, será legítimo afirmar que o Faz-tudo
põe em causa tudo, inclusive a própria brinca
e o seu fundamento.
É
exactamente por este emaranhado de situações, mais ou menos complexas, que só
faz verdadeiro sentido nós encararmos a brinca
no contexto mais amplo do próprio Carnaval, inserido este no calendário das
principais Festas Cíclicas (Agrárias) Anuais. Não o Carnaval domesticado, legitimado, vendido, bem educado, isto é, o Carnaval citadino
e urbano, mas sim aquele tempo de festa, de jogo, onde a transgressão, a loucura,
o imoral deveriam ter sido, em eras
passadas, os únicos valores, ou melhor, anti-valores
aceites num tempo e num espaço de renovação, de exaustão do velho e do gasto, para que o novo (ou
renovado) pudesse emergir, ressuscitar, germinar com o aparecimento da
Primavera. Daí o denominar-se, tradicionalmente, desde tempos imemoriais, de Entrudo
(Entrada) esta época de caos e desordem
que antecedia paradigmaticamente a génese da organização natural e humana.
Entrudo para uns e Carnaval para
outros...
O
tempo do Carnaval era tradicionalmente tempo de festa, de jogo, onde a
«transgressão», a «loucura», o «imoral» e a «paródia» deveriam ter sido, em
eras remotas, os únicos valores aceites de um tempo de renovação, de exaustão
do «velho» e do «gasto» para que o «novo» pudesse ressuscitar, germinar com a
Primavera. Talvez daí o facto de se chamar, desde tempos imemoriais, de Entrudo
(Entrada) a esta época de caos e desordem que antecedia paradigmaticamente a
génese cíclica da transformação natural e da organização social.
Notícias antigas sobre as
Brincas de Carnaval de Évora...
O Carnaval
Acerca das festas
e divertimentos carnavalescos, publicou hontem o governador civil do districto
d’Évora, sr. dr. Domingos Rosado, um edital que contem as seguintes
disposições:
(…).
3.ª – As danças,
revistas, ou quaesquer grupos de mascaras nas ruas e logars públicos só podem
ser consentidas quando vão munidas de licença da autoridade policial, e sempre
de forma que não impeçam o transito e o socego publico.
(…).
Notícias de Évora, n.º 6951 de 28 de Fevereiro
de 1924 (à pág. 2)
Ainda o Carnaval
nas quintas do Louredo e Espinheiro
Com grande animação,
realisaram ali as festas nos 3 dias de Carnaval, uma sociedade de rapazes,
organizando umas danças, em que se apresentaram decentemente, sendo os
promotores das danças, os srs. Jasuino Carrageta e Joaquim da Cândida e outras
sociedades. Houve opiniões da maioria, que as danças mais aplaudidas foram as
do sr. Jasuino Carrajeta.
Felicitamos as
sociedades do Louredo e Espinheiro.
Notícias de Évora, n.º 6962 de 14 de Março de
1924 (à pág.1)
O que eram as Brincas...
Tradicionalmente,
as Brincas eram constituídas somente
por homens, travestindo-se, se necessário, para o desenrolar do fundamento, numa média de quinze a
vinte: um mestre, dois ou três
palhaços (os faz-tudos), meia dúzia
de músicos, onde a bateria (bombo e
caixa) e a concertina têm um papel fundamental, um porta-estandarte e os
restantes figurantes para a execução/representação do fundamento.
Convém
clarificar que se denomina brinca o
grupo de homens ou rapazes que se organizam anualmente (ciclicamente) para a
construção e execução de uma dramatização popular durante a época festiva do
Carnaval. No entanto, poderá igualmente entender-se por brinca toda a acção dramatizada (o fundamento), musicada (a contradança, a valsa, a canção, etc.) e
coreografada (as diferentes formações que têm lugar ao longo de toda a acção:
as rodas, etc.). que esse grupo
assume nas várias representações que realiza.
No
que diz respeito ao fundamento, em
termos formais é constituído por décimas de versos rimados. É a alma da brinca.
O
fundamento, apresenta um enredo, com princípio, meio e fim,
podendo este focar diferentes realidades sócio-culturais e históricas.
Diversificada poderá ser a temática desse enredo: episódios da Bíblia, da
História de Portugal, da realidade social alentejana, da guerra, contos
populares tradicionais, do comum quotidiano, entre outros.
Évora, 2 de Março de 2014
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